quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Betim na contramão do SUS

Essa notícia demostra o total desrespeito do governo de Betim com o Sistema Único de Saúde (SUS). É a ampliação do mercado dos planos privados em detrimento de uma política de saúde pública que atenda a população. Um terreno que deveria ser usado para a construção de novos dispositivos do SUS está sendo doado para uma empresa de planos de saúde (UNIMED).

O Fórum em defesa do SUS MG repudia a medida adotada pelo governo de Betim que ataca frontalmente o direito de toda a população a saúde, uma clara transferência de recursos públicos para o setor privado.

Retirado: Jornal O tempo 

Governo doa terreno para novo hospital da Unimed

Projeto de lei que autoriza a cessão da área foi aprovado pelos vereadores; obra está prevista para ser entregue em 2016.


PUBLICADO EM 22/08/13 - 23h26
Betim ganhará, em breve, um novo hospital. É que os vereadores aprovaram na reunião da Câmara Municipal da terça-feira (20) um projeto de lei, de autoria do Executivo, que autoriza a Prefeitura de Betim a doar um terreno de aproximadamente 29 mil metros quadrados para que a Unimed Belo Horizonte construa uma nova unidade hospitalar na cidade.
A votação ocorreu após polêmica gerada na semana passada, quando alguns vereadores não quiseram votar o projeto em função de uma suposta briga política com o ex-vereador Raimundo Salomão, proprietário da área.
O hospital que será construído ficará localizado às margens da avenida Juiz Marco Túlio Isaac, na altura do bairro Betim Industrial, e receberá um investimento de cerca de R$ 200 milhões.
Pela proposta, com a unidade, a Unimed BH irá ampliar em 300 o número de leitos disponíveis, o que elevará para 13 mil a sua capacidade de internações anuais.
Contrapartida
Além de ampliar a capacidade de atendimento aos associados da Unimed, a parceria entre a prefeitura e a empresa beneficiará também os usuários do SUS Betim.
Isso porque, ao receber o terreno da prefeitura, a empresa assume, em contrapartida, o compromisso de disponibilizar 10% da capacidade instalada do hospital para atender pacientes da rede pública, ou seja, dos 300 leitos construídos, 30 serão disponibilizados para o SUS Betim.
Atualmente, quando o paciente está em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e evolui para uma internação, precisa ser cadastrado na Central de Leitos para, posteriormente, ser transferido para alguma das unidades disponíveis, como o Regional ou os hospitais de Belo Horizonte e de Contagem.
“Agora, com a construção desse novo hospital, o município ganha mais uma opção para encaminhar seus pacientes. Essa parceria é um grande avanço. Além de nos dar a garantia dessa disponibilidade de leitos para esses pacientes, é mais uma forma de desafogar o atendimento na rede pública da cidade”, afirmou o secretário adjunto municipal da Saúde, Júnio Araújo.
Lançamento
O projeto de lei ainda precisa ser sancionado pelo prefeito. Pelo texto, a obra deve ficar pronta até 2016.
Segundo a assessoria da Unimed BH, os detalhes do plano de investimentos serão anunciados, em parceria com o município, em evento no dia 31 de agosto. “Na ocasião, também será lançada a obra do novo hospital”, declarou.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Dia Nacional da Luta Antimanicomial-Belo Horizonte


18 DE MAIO 2013 
DIA NACIONAL DA LUTA ANTIMANICOMIAL

“SE NÃO NOS DEIXAM SONHAR, NÃO OS DEIXAREMOS DORMIR”

Resistência é o tema acolhido para afirmar a nossa importância, a nossa humanidade e nossa liberdade. Resistir para afirmar a autonomia.
Apresentamos aqui os dois mil e treze motivos para aceitar o irresistível convite ao Dezoito de Maio, nosso “louco encanto”.
“Por uma sociedade sem manicômios” é o sonho no horizonte que nos faz caminhar na construção cotidiana da utopia em seus 26 anos de prática e vivências. Reinventar a existência para interditar a produção da morte manicomial significa resistir ao conservadorismo e à mercantilizarão da vida. Viver a arte com outros fazeres para “reflorestar os desertos do mundo e da alma”.
Em nosso tempo, a exigência do consumo amplia o abismo entre aqueles que têm e aqueles que não podem ser. Esse espaço brutal preenchido pelo abandono, pela fome e pela violação e privação de direitos, exige coragem para se manter vivo.
Destaca-se nesse enredo a canção que diz que resistir à violência compulsória, aquela que impede as escolhas e cerceia a liberdade, é mais uma vez o convite à invenção de outros modos de existência e nos instiga a uma acuidade fina para perceber o som que vem das ruas, das chamadas cracolândias e escutar os dizeres das “quebradas” de uma cidade que insiste em fazer caber todas as esperanças e o direito à vida. “Uma cidade será sempre o oposto do deserto.”
O Dezoito de Maio marca do movimento pela cidanização da loucura traz também nesse ano as referências e exemplos de resistência para lembrar a coragem de Palmares em Zumbi na luta pela liberdade! A determinação da Palestina Livre que não se perde nem se curva ante a opressão e a violência financiadas pelos interesses do capital. E, bem pertinho, no tempo e no espaço, os nossos guaranis, símbolo da consciência coletiva, somos todos Kaiwoá!!
E revisitando páginas infelizes da história, em diferentes tempos e lugares da latino-américa, lê-se entre sombras e linhas: ditaram duramente que os sonhos envelhecem e que o exemplo de uma vida extirpada não tem ressonância e nem se multiplica, mas aqui estamos. Chegamos das margens do mundo para dançar e cantar ao som dos tambores. Vislumbrando o clarear de um novo tempo, viemos poetar, esperançar e lutar. Chegamos do ventre das Minas e viemos cobrar: direita, vou ver o que foi feito dos meninos que sonharam um Brasil justo e igualitário. E precisamos saber sobre quantas comissões e verdades serão necessárias, quantas praças ainda para as mães de maio, qual o preço das lágrimas pelo menino Angel e pelo amigo Marighella e o que tem a dizer da Violeta e de Jará? És mãe gentil, pátria amada, dos filhos pequenos deste solo?
As seis alas do desfile/manifestação 2013 tratarão, com a irreverência costumeira, os delicados e necessários pontos na tessitura do pensamento vivo, preciso e contemporâneo sinalizando modos e saídas que façam valer o direito à vida.

1ª ALA: A LOUCURA NÃO SE DITA, DURA A NOSSA RESISTÊNCIA
A mais perversa armadilha da alienação é acreditar que “sempre foi assim” e, portanto, “sempre será assim”. Esta ala homenageia a todos e todas que de uma maneira corajosa e revolucionária combateram e tentaram resistir às ditaduras militares na América Latina ao preço de suas vidas e suas liberdades, num momento onde a história e a memória estavam proibidas, porque insistiam em nascer todo dia renovadas. 
Ao buscar preservar a memória da resistência deste período tão sangrento de nossa história, a ala evoluirá homenageando, entre inúmeros outros, o papel de vanguarda do movimento estudantil brasileiro, a lembrança de Zuzu Angel e Carlos Marighella, as heróicas “Mães da Praça de Maio” na Argentina, que podem ser as mesmas “Mães da Praça do 18 de maio”, as famosas músicas de oposição ao regime de Pinochet, no Chile, de compositores como Violeta Parra e Victor Jará. 
Que esta homenagem sirva para incendiar outras consciências.



2ª ALA: A MINHA LUTA É DE SAL DE FRUTA, FERVENDO NUM COPO D’ÁGUA.
“Nada deve parecer impossível de ser mudado”. Citando Brecht, esta ala homenageará diferentes processos de lutas sociais e populares, no Brasil e no mundo, sustentando consigo as insígnias do inconformismo e da resistência. 
Estas lutas, que ocorreram em diversos períodos históricos ou mesmo no momento atual, são empreendidas por diferentes classes, categorias sociais ou mesmo povos, que lutam pela conquista de seus direitos, bens ou ainda contra injustiças, discriminações ou atentados contra a dignidade humana e sempre sinalizam perspectivas de transformação social.
Tais lutas ocorrem em diversos fronts:
A Luta Antimanicomial, movimento social composto por diferentes atores sociais, trabalha há 25 anos no cumprimento de sua agenda rumo à superação do manicômio, ou seja, pelo fim dos hospitais psiquiátricos e pela inclusão social e protagonismo das pessoas com sofrimento Mental. O próprio Dezoito de Maio se inscreve na cena urbana para afirmar os princípios antimanicomiais, convocando a cidade a pensar o caminho real e possível para a liberdade de todos, ainda que tan tan.
Destacamos também o movimento dos quilombos, a organização dos negros escravizados na sua luta pela liberdade, em especial o Quilombo dos Palmares, na figura de seu grande líder Zumbi. Palmares é o símbolo da resistência negra à escravidão que durou mais de 100 anos e chegou a reunir 20 mil quilombolas. Uma das mais importantes histórias da resistência à escravidão no mundo. O maior quilombo de todas as Américas. 
A luta dos povos indígenas no Brasil não poderia ser esquecida, em especial a dos Guarani Kaiowá dispostos a darem a própria vida pelo direito à sobrevivência na terra de seus antepassados. ”Sem perspectiva de vida digna e justa, tanto aqui na margem do Rio quanto longe daqui...” E ainda que aconteçam os constantes ataques a seus lideres, eles resistem enquanto povo, enquanto identidade coletiva, e se pensarmos ao longo dos 500 anos de expropriação e violência letal imposta pelos invasores e o processo “civilizatório”, localizamos nos Guaranis Kaiowá, a resistência enquanto vida .”Como um povo nativo e indígena histórico, decidimos meramente sermos mortos coletivamente”(Entre aspas, trechos da carta dos guaranis ao governo e à justiça do Brasil)
Um exemplo internacional de luta tem sido a resistência do povo palestino. A partir de uma Resolução das Nações Unidas em 1948, o Estado de Israel foi criado dentro de um país cujo nome é Palestina. E desde então os palestinos vêm sendo massacrados e expulsos de sua própria pátria, perderam a sua independência, o direito de ir e vir, o direito à autodeterminação, perderam a paz. Apesar dos milhares de mortos, apesar do que sobrou da pátria corresponder a um quinto da área original, acima de tudo, porém, o que vemos é a expressão de um povo que não tem outra escolha a não ser resistir. Afinal, para eles, a coragem recusa a humilhação.
A causa palestina nos remete aos movimentos de luta em defesa da terra, para plantar e distribuir a riqueza, e o movimento da moradia para todos. “Enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito”. 
Todos os movimentos aqui citados têm como razão de sua existência, a luta pela liberdade, igualdade de oportunidades, inclusão social e a dignidade. Todos eles dão mostra que resistir é um ato de coragem e uma maneira permanente de dizer que o mundo, a cidade, são espaços diversos contraditórios, e que podem ser território livres e de direitos para a fruição da vida, a polis complexa e possível ao existir.
“Temos uma série de heróis que nem morreu e nem se encantou, mas que nascem todo dia como os quilombos da Serra com um tambor dentro do peito e Luanda dentro dos olhos”.

3ª ALA: CRIANÇA MAL CUIDADA, PÁTRIA MAL AMADA
O que está Por Vir?
Palavra é linguagem, grafia, som, representação imaterial, sentido e referência no cuidar. Acreditamos no poder das palavras, que sejam falas, que sejam nomes que não empobreçam a imagem e acreditamos que medicalizar a infância, seus sonhos e modos de existir é uma necessidade imperativa da sociedade de consumo para instaurar o silêncio que embota, desbota, estanca e normatiza traços singulares dessa fase da vida. Acredito nas palavras porque só as palavras não foram castigadas pela ordem das coisas, continuam com os seus deslimites. 
Acreditamos no livre, ousado e criativo trabalho em rede para cuidar da infância e da adolescência quando diante do insuportável e apostamos em caminhos mais longos para o correr dos sujeitos, o correr das lutas e o palavrear que suaviza a dor. 
Acreditamos na escuta para ouvir nas conchas as origens do mundo e entender o chamado do novo, voar fora da asa. A criança imagina para encher os vazios com suas peraltagens, busca saídas para dar sentido ao mundo, brinca e estabelece novas relações e combinações, resiste, subverte a ordem, faz histórias para aprender que é possível mudar o rumo estabelecido. O jovem cria novas maneiras de si mesmo em meio às contradições de uma cidade que pouco oferece à grande parte de seus infanto-juvenis cidadãos de desiguais oportunidades. Cair nesse duro torrão não impede a esses jovens de virarem as coisas pelo avesso, criarem cultura para transformar o previsível e não esquecerem as cores e o tamanho dos sonhos. 
Expostas ao estímulo do consumismo e assédio midiático, uma formulação se coloca: criança não é celebridade, mas tem identidade!
Crianças e adolescentes seriam uma raça de heróis que vai salvar a terra? Talvez não, mas bastava salvar esse tempo, salvar esse sonho, salvar a meninice, essa vida em flor, pronta para transformar dores em cores, desesperança em poemas, consciência em hip hop, as privações em manifestações políticas, saraus em outras histórias e a vida em uma deliciosa brincadeira!
Acreditamos no potencial transformador para fazer o nosso lugarzinho crescer até ficar maior que o mundo, pois liberdade e poesia se aprende com criança.
Que venha o futuro e que sigam adiante, os meninos e meninas, numa teimosia poética que resiste sempre!

4ª ALA: NÃO ME IMPORTA SE A RIMA É MANCA: O QUE EU QUERO É POETAR. SE MEU DELÍRIO A MONOTONIA ESTANCA: EU QUERO MAIS É DELIRAR 

Usando as palavras de Eduardo Galeano, os delírios e alucinações, apresentados nesta tradicional ala do nosso desfile, resistem enquanto direito, insistindo em existir apesar de toda a parafernália biologicista e das neurociências criada para contê-las. Estas mais criativas manifestações da subjetividade humana são o exemplo que mesmo em meio a turbulências, sofrimento, desamores e violência, o homem continua a sonhar.
Este ano, atendendo ao apelo deste escritor uruguaio, a Escola de Samba Liberdade Ainda que Tam Tam propõe ao mundo que “deliremos” juntos. Que tal pensar um dia em que a guerra se renda à paz? Em que o mundo não estará em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza e a indústria militar não terá escolha a não ser decretar falência? Em que a TV deixe de ser o membro mais importante da família? Em que os políticos não acreditem que os países adoram ser invadidos e que os pobres adoram comer promessas? Que tal pensar um dia em que as crianças de rua, não serão tratadas como lixo, pois não existirão crianças de rua? Em que a educação não será privilégio daqueles que possam pagá-la e a polícia não será a maldição de quem não possa comprá-la? Enfim, que tal pensar um dia em que a justiça e a liberdade, irmãs siamesas condenadas a viver separadas, novamente juntas, de volta bem grudadinhas, costas com costas?
“A utopia é como o horizonte. Nós o vemos, ao longe, nunca o alcançaremos, mas serve para que continuemos sempre a caminhar”.

5ª ALA: DA OUSADIA DO SONHO: BORDAS DE PRATA
Bordando sonhos para realizar a utopia “Por uma sociedade sem manicômios!”
Esse é o convite à resistência que o fazer rede substitutiva nos convoca nos 365 dias do ano. Subentende-se a superação dos desafios num exercício clínico que exige leveza, sensibilidade, escuta, alegria, rede ampliada, responsabilização conjunta, intersetorialidade, invenção, reinvenção. “Redeeditar”- a rede de estar - reconstruir a rede de relações como forma de resistência.
Bordas de prata é a nomeação sensível ao exercício de reflexões acerca dos vinte e cinco anos da experiência substitutiva aos hospitais psiquiátricos em Minas. Da pioneira Itaúna, passando por João Monlevade até Brumadinho, chega BH para alcançar tantas outras cidades e equipes que transformaram sua prática e se revigoraram pela ousadia renitente produzindo assim sentido à existência de tantos usuários e a si mesmas.
Bordados em prata, bordados em cinza, do verde à esperança resultaram em tantas cores, outras formas de abordar e bordar... A construção de laços com aqueles ditos que não faziam laços!
Nesse cotidiano dos alinhavos-articulações até chegar à borda que dá o contorno, um sentido se produz: a vida pode ser bela, a loucura pode ser livre! 
E, ante ao monocromático desfocado ou a pouca luminosidade para perceber o que pode ser ou por onde seguir, necessárias são as reflexões entre os aprendizes da incerteza para provocar o pensamento onde borbulha a vida em cores. De Almodóvar ou Mondriam, com os traços Dali e acolá, laços, enlaces, possibilidades e invenções de um ponto ao outro, no caso a caso de cada dia para desenterditar a produção do desejo.
As perguntas que se cruzam no cotidiano do trabalho antimanicômio, devem habilitar o pensamento dos trabalhadores e usuários de nossas redes:
Quando dançamos pela última vez?
Quando paramos de duvidar de nossas certezas?
Quando foi a última brincadeira?
Qual a última vez que compartilhamos nossos medos e (ou) nossos sonhos?
Temos reinventado a vida quantas vezes ao dia?
Que a partir dessas reflexões se configure o convite à esperança e à reinvenção. E para fechar a cena, os aplausos de pé aos que sobreviveram à anulação da vida e que hoje habitam os SRTs, uma das instituições inventadas que faz reviver a riqueza do objeto para a travessia à condição de sujeito.
Necessito tecer... O gesto de bordar me ensina que estou inventando uma outra ordem.(Mia Couto).

6ª ALA: POLIS-PHONIA: EU, VOCÊ E VOZES MESMO
Estou em todas as vozes, ouço todas. Vozes múltiplas de todos os ventos, vozes que guardamos, vozes incomodadas com a batuta de uma nota só, vozes que ensinam que é bom cantar junto.
Nos últimos anos, em BH, deu-se início a um processo de reestruturação dos espaços da cidade consonantes com as tendências contemporâneas de uso e desuso especulativo e mercantil, sem contar o investimento ostensivo no monitoramento que se espalha por todos os lados. Tais intervenções pretendem sufocar o encontro espontâneo dos indivíduos nas ruas e o livre uso dos espaços públicos. As pessoas não tem podido experienciar as ruas e as praças plenamente.
O loteamento e aburguesamento das áreas das grandes metrópoles recapitaliza os espaços urbanos colocando a cidade na condição de mercadoria. Tem-se desse modo uma verdadeira ficção de lugares coletivos, eliminando as memórias culturais urbanas, provocando a perda dos mapas mentais de seus habitantes.
“Oh margem, reinventa o rio”. 
Em tempos de higienização, poluiremos com a liberdade e a arte.
Os movimentos urbanos representam a resistência ao massacre das identidades e ao sentido de pertencimento a um lugar geográfico ou simbólico. Se “a casa é um documento autêntico da vida do homem”, a cidade também documenta identidades. Nesse lugar e nas relações que estabelecemos nele e a partir dele, é possível nos inventarmos e assim reinventar outros modos de viver e resistir para não abrir mão de si e do eu coletivo.
Contemplando as singularidades dos antigos e dos novos agentes históricos, diversos movimentos urbanos de resistência e a ética da resistência aqui se apresentam:
Em Belo Horizonte, nas praças e na grama proibida dos jardins, o Vira a Lata é o sarau itinerante que difunde o livre manifesto da poesia e desdobra em leveza a diversidade e a democracia. Ocupar é a agenda da cidade, com uma produção cultural repleta de eventos artísticos, expressando a importância de resistir a uma política vazia, dominada e pouco satisfatória.
No céu do azul da Ocupação Dandara, a negação dos direitos à moradia e a injustiça estrutural não impedem o canto e a organização que constrói o cotidiano da resistência na luta pela vida e dignidade.
A Ocupação Eliana Silva, contrariando interesses, funda sua biblioteca comunitária para manter o acesso ao conhecimento como símbolo da luta e resistência. No varal de seus cordéis, as narrativas poéticas trazem luz ao endurecimento da realidade para seguir na luta pelos direitos cidadãos, dentre eles, a moradia.
E em Minas agora tem praia, com gente de todos os cantos, com caras e expressões que ocupam a Praça da Estação, um ponto da história e memórias que fazem a cidade. Um decreto proibitivo acerca da ocupação daquele espaço mobilizou pessoas que daí fizeram nascer um novo e irreverente modo de viver a cidade em sua fruição. O convite sem receio aos movimentos internáuticos e tantas outras manifestações, demonstraram que não há, como alguns pensam, um conformismo político generalizado. Entre o possível e o desejado, a cidade pode acolher sonhos que faz da Praia uma Estação de invenções para reunir afetos, provocar encontros.
Os MCs em sua manifestação artística do hip hop ocupam o Viaduto de Santa Tereza e duelam modos de existir e resistir. Nos últimos cinco anos esse reduto especial do Centro de Belo Horizonte é invadido por centenas de adeptos do Hip Hop, resgatando as origens do verdadeiro movimento de rua. Os MCs levam sua vida em sua voz quando improvisam e denunciam desafiando as rimas, revelando a similaridade entre resistência e revolução.
Outra Cena: sou uma voz que denuncia o furo na cidade enquanto sociedade, o fracasso das quase invisíveis políticas públicas. Voz que para se fazer ouvir precisa do risco, da quebrada, do escuro da noite, da sarjeta coletiva. Por isso, o perigo pra ter você comigo. 
São lugares e pessoas que precisam de poesia para não virar pedra. “Porque você me deixa tão solto? Porque você não cola em mim?” Apelo atendido. Lugar desse encontro? Cracolândias e Consultórios de Rua, onde “posso me ver para você me olhar”. E aí, resisto na querência de juntar o antes, o agora e o depois e querer a vida para brincar de pipas, voar nas asas de meu sonho Ícaro, reconstruir, catar o que deixei pelo caminho. Não sou a voz compulsória: sou água que corre entre pedras. Liberdade caça jeito!
Nesses cenários de mobilizações, que se iniciaram de formas distintas, e não raro isoladas mas que acabaram por se comunicar e interagir, criaram-se parcerias que atualizam um forte movimento de resistência urbana. Ocupar os espaços públicos para transformá-los em lugares de pleno habitar.
Na tradição do hip hop, no brilho do grafite, nas brigadas e levantes, nas luzes artificiais da Babilônia e nas diferentes ocupações com o mesmo propósito, BH escuta a poesia das ruas e insiste na canção que sua alma e seu povo sentem no ar.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Lei sobre a EBSERH é questionada no STF

 
Processos relacionados

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ajuizou no Supremo Tribunal Federal (STF) uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4895) contra dispositivos da Lei 12.550/2011, que autorizou a criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), empresa pública com personalidade jurídica de direito privado, patrimônio próprio e vinculada ao Ministério da Educação (MEC). Para Gurgel, a lei viola dispositivos constitucionais ao atribuir à EBSERH a prestação de um serviço público.

Na ação, o procurador-geral requer a declaração da inconstitucionalidade dos artigos 1º a 17 da norma, que tratam das atribuições, gestão e administração de recursos da empresa ou, sucessivamente, dos artigos 10, 11 e 12, que tratam da forma de contratação de servidores da empresa por meio da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), de processo seletivo simplificado e de contratos temporários.

Segundo o artigo 3º da Lei 12.550/2011, a EBSERH tem por finalidade prestar “serviços gratuitos de assistência médico-hospitalar, ambulatorial e terapêutico à comunidade” e a prestação às instituições públicas federais de ensino ou instituições congêneres de serviços de apoio ao ensino, à pesquisa e à formação de pessoas no campo da saúde pública. O parágrafo 1º do artigo 3º da norma estabelece que as atividades da EBSERH estão “inseridas integral e exclusivamente no âmbito do Sistema Único de Saúde”.

Segundo o autor da ADI, a lei viola, entre outros dispositivos constitucionais, o inciso XIX do artigo 37 da Constituição. Esse inciso fixa, entre outras regas, que somente por lei específica poderá ser “autorizada a instituição de empresa pública”, cabendo à lei complementar definir as áreas de atuação dessa empresa. “Considerando que ainda não há lei complementar federal que defina as áreas de atuação das empresas públicas, quando dirigidas à prestação de serviços públicos, é inconstitucional a autorização para instituição, pela Lei 12.550/11, da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares”, sustenta Gurgel.

Sistema Único de Saúde

O procurador-geral aponta também que o disposto no parágrafo 1º do artigo 3º Lei 12.550/2011, que estabelece que as atividades de prestação de serviços de assistência à saúde “estarão inseridas integral e exclusivamente no âmbito do Sistema Único de Saúde”, está em desarmonia com a Lei Orgânica do SUS (Lei 8.080/1990). Esta determina em seu artigo 45 que “os serviços de saúde dos hospitais universitários e de ensino integram-se ao Sistema Único de Saúde (SUS)’”. Nesse sentido, o autor da ação acrescenta que a saúde pública “é serviço a ser executado pelo Poder Público, mediante Sistema único de Saúde, com funções distribuídas entre União, Estados, Municípios e Distrito Federal”.

CLT

A contratação de servidores por meio da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), estabelecida no artigo 10 da Lei 12.550/2011, também é questionada pelo procurador-geral. Ele sustenta que “a empresa pública que presta serviço público, tal como ocorre com a EBSERH, está submetida ao conjunto de normas integrantes do artigo 37 da Constituição da República, vocacionados a organizar a prestação do serviço público, de modo a que realize os valores fundamentais da sociedade brasileira”. Para tanto, cita a medida cautelar deferida pelo Supremo na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 2135, na qual foi suspensa a eficácia do artigo 39, caput, da Constituição Federal , na redação dada pela Emenda Constitucional (EC) 19/98.

Assim, destaca Gurgel, “a previsão da lei impugnada, de contratação de servidores pela CLT, está em descompasso com o atual parâmetro constitucional, em face da decisão proferida naquela ADI”. Com base nos mesmos fundamentos, ele sustenta a inconstitucionalidade dos dispositivos da lei que preveem contratações por meio de celebração de contratos temporários e de processo simplificado.

Medida cautelar

No Supremo Tribunal Federal, o MPF requer que seja concedida medida cautelar para determinar que seja suspensa a eficácia dos artigos 1º a 17 da Lei 12.550/2011 ou, sucessivamente, dos artigos 10, 11 e 12 “em razão do vício material apontado”, até o julgamento do mérito da ação. Por fim, requer que sejam declarados inconstitucionais os dispositivos da norma.

O ministro Dias Toffoli é o relator do caso no STF. 

VA/AD

Processos relacionados
ADI 4895

*Retirado do STF
**Republicado no blog da Frente Nacional contra a Privatização da Saúde em 07/01/2013

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

VITÓRIA NO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE DE BELO HORIZONTE!!!!


A Secretaria Municipal de Saúde de BH (SMSBH) colocou na pauta da plenária do Conselho Municipal de Saúde (CMSBH) algo intitulado como: Apresentação e votação do projeto de Qualificação de Infraestrutura da Atenção primária à saúde, que não significava nada mais que aprovar um novo projeto de PPP (parceria público -privado) para as Unidades Básicas de Saúde de BH.

Pra quem ainda desconhece o que é uma PPP é uma concessão que o governo faz a uma empresa privada para exploração de serviço com fins lucrativos. E é isso que o Sr. Márcio Lacerda (prefeito de BH) e Marcelo Gouveia (secretário de saúde de BH) querem implantar nas UBS de BH chamando de projeto de qualificação da Atenção Primária a Saúde. Claro que todos sabemos que a relação público-privada na saúde não é novidade e que, como tenho publicado aqui no face, há várias denúncias contra essas parcerias e demonstração de como esta relação tem sido um grande prejuízo para saúde pública no Brasil. Se o setor privado fosse um grande avanço na saúde os EUA teria o melhor sistema de saúde no mundo.


Ontem, dia 18/10, novamente a SMSBH apresentou este novo projeto na plenária do CMSBH como se fosse a melhor e única solução para a melhoria da estrutura dos nossos postos de saúde que, de fato, andam bastante precários e insuficientes. A SMSBH usando da máquina pública para vender o peixe percorreu, segundo eles mesmos, por quatro vezes todos os distritos de saúde de BH levando a apresentação deste novo escopo. Apresentação esta que tivemos oportunidade de ver e filmar (mais pra frente vou postar a filmagem) e muitas informações são equivocadas e manipuladas para fazer desta PPP a salvação do SUSBH.


Mas nós do Forum Mineiro em Defesa do SUS e Contra a Privatização junto com alguns conselheiros de saúde, trabalhadores e usuários do SUS conseguimos adiar a votação deste novo projeto. Após muitas intervenções e debates, e uma tentativa clara da gestão forçar a votação de um projeto mesmo que 4 camaras técnicas do CMSBH tenham solicitado a não votação, tentando tratorar, mais uma vez, o processo de controle do povo sobre o público, conseguimos adiar com a diferença de 1 voto!!


Mas como disse bem o companheiro Bruno Pedralva( militante do fórum em defesa do SUS) , nossa maior vitória foi ver o CMSBH se libertar dos mandos, caprichos e manipulações da gestão e começar a pontuar-se enquanto um local de controle e deliberação a favor do povo, a favor de garantir um SUS que seja efetivamente garantidor do nosso direito à saúde.


Teremos outra etapa deste processo no dia 31/10 e lá queremos, novamente, conseguir ganhar esta tão difícil disputa entre a máquina do Estado e a formação da luta coletiva de um povo que quer ter vida digna.


PARABÉNS A TODOS NÓS QUE ESTAMOS CONSTRUINDO ESTA LUTA!!!!!!
 
O SUS é nosso niguém tira da gente
Direito garantido, não se compra, não se vende.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Debate sobre as PPP´s e os problemas estruturais da saúde em B.H





Dia 10/10 ás 18:30 
Local: CRESS-Rua Tupis 485, 5 andar. 

Presença do Francisco  Júnior -Ex presidente do Conselho Nacional de Saúde e membro da Frente Nacional em Defesa do SUS.  


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Seminário organizativo do Fórum em Defesa do SUS e contra a privatização da saúde pública MG

Dia: sábado, 15 de setembro de 2012 
 
Horário: 13 horas
 
Local: Auditório do CRESS (Rua Tupis, 485 - 5º andar - sala 504)
 
 
Programação:

13:00 - 13:30: Reconhecimento do Grupo. Definição de quem é o Fórum em Defesa do SUS e contra a privatização.
 
13:30 - 15:30: Definição das frentes de luta do Fórum - 10 minutos para cada apresentação dos temas pré-definidos (60 minutos) e posterior discussão (60 minutos).
 
15:30 - 17:00: Organicidade e planejamento do Calendário

17:00 - 18:00: Encaminhamentos
 
 
Tod@s convidados!!




quarta-feira, 23 de maio de 2012

PORQUE DEFENDER A LUTA ANTIMANICOMIAL?


Por Jarbas Vieira de Oliveira

         Primeiramente gostaria de agradecer ao PASME ( Programa de atenção á saúde mental na UFMG) na pessoa da Professora Doutura Maria Stella Brandão Goulart que fez o convite ao FOFO ( Fórum de Formação em Saúde mental)  e organiza essa atividade aqui na FAFICH, nosso muito obrigado. 
Segundamentegostaria de destacar o quão feliz estou por poder compartilhar dessa atividade com vocês. Ex aluno dessa universidade, lutei por anos a fio, para que o debate acerca da luta antimanicomial fosse uma proposta da Universidade e não apenas de guetos por ela espalhados. Os guetos possuem seus louros, mas também seus limites, porque não coletivizam o tema ao se trancarem em seus departamentos, mas pelo que vejo, o PASME é fruto desses guetos que agora se coletivizam e tornam o tema da Luta Antimanicomial uma prática debatida dentro desse universo do saber que é a UFMG. Maior que a maioria das cidades de MG e com um campo de ideologia marcadamente influenciável não somente em Minas, mas no Brasil.
            Feito os agradecimentos, vamos ao tema de hoje: POR QUE DEFENDER A LUTA ANTIMANICOMIAL? Essa pergunta é muito ampla e os presentes hão de me compreender que não poderemos terminar esse debate por aqui, mas dá um pontapé inicial, pois, esse tema é dos antigos, há mais de 40 anos.
            Vamos por partes como diz o Jack: 1) POR QUE: analisando essa palavra, ou como queiram esse conjunto de palavras, se não me falhe a memória gramatical é um advérbio interrogativo, onde ela se encontra mostra-se como um questionamento e se questionamos é porque ou não entendemos, ou não concordamos. Estou certo? 2) em segundo lugar DEFENDER é um verbo que perspectiviza a noção de que precisamos ser à favor de algo que a maioria não é, por isso defendemos. Defender alguma coisa ou alguém é porque temos a certeza de que essa coisa ou pessoa é frágil e que mesmo que ela esteja se fortificando precisa de ser defendida. 3) por fim e não menos importante LUTA  ANTIMANICOMIAL. São um conjunto de duas palavras que sozinhas representam muito e juntas mais ainda. LUTA vem do verbo lutar, que para mim é sinônimo de apoiar, defender, brigar, guerrear em favor de algo ou de alguém. ANTIMANICOMIAL vem de uma flexão de negação entre uma palavra que a maioria já é a favor (hj nem tanto, no sentido estrito da palavra) MANICOMIAL e o prefixo de negação ANTI na qual estamos aqui, debatendo.
            Realizado essa guisa de introdução, remeto-me aos demais com alguns questionamentos: POR QUE VOCÊS (NÓS) ESTÃO (MOS) AQUI?; O QUE ESSE TEMA TEM A VER CONOSCO? O QUE SIGNIFICA ISSO PARA NÓS PRESENTES NO AUDITÓRIO PROFESSOR BICALHO (que só sei que foi um professor emérito aqui na FAFICH)?
Defendemos a luta antimanicomial porque sabemos que ela ainda precisa de ser defendida, lutada, guerreada. Precisa de sangue novo nos olhos da juventude que ao sair dessa e de todas as universidades do pais irão em sua maioria trabalhar em um serviço substitutivo. Muitos de vocês aqui presentes não passaram por um hospital psiquiátrico, ou no máximo, como eu, fizeram uma ou outra visita e se assim for, puderam presenciar o horror que aquilo, eu digo isso, AQUILO pode representar na sociedade como hoje. Os hospitais psiquiátricos, tanto em Trisete como aqui no Brasil, não necessitam de existir, porque criamos algo novo, criamos algo que o substituta, criamos os serviços territorializados, onde os usuários, vão e vem todos os dias e onde aqueles que por um curtíssimo período de tempo não podendo ir e vir, podem ser acolhidos, respeitosamente nesses serviços e ultrapassarem o momento de suas crises ali mesmo, mas com respeito cidadão, com dignidade e não dormindo em colchões de gramas, matos, ali mesmo no chão do hospital. Hoje, os defensores dos manicômios, dizem que os hospitais estão humanizados. Ora, como assim humanizados? Quais os conceitos de humanos damos para esses lugares? O fato de não terem leitos em chão de matos, não comerem no chão e não viverem pelados pelos pátios afora, à revelia, quer dizer que são humanizados? Onde estão o humano que não tem liberdade? A Liberdade também faz parte da constituição do ser humano, ou não? Me corrijam se estiver errado, ou discordem de mim, se for o caso.
            Defendemos sim a LUTA ANTIMANICOMIAL porque sabemos que mudou os serviços mudaram, mas a formação ainda não. Ainda temos em diversos, para não dizer a maioria, cursos que insistem na apresentação psicopatológica que vão aos hospitais para aprenderem e nada apreenderem daquele lugar e fazer dos usuários meros bonecos de aprendizagem.
            Defendemos a LUTA ANTIMANICOMIAL porque sabemos que a ideologia do encarceramento está no dia a dia, na cabeça das pessoas e a lógica tutelar ainda reside em nossas ações e que por isso, precisamos à todo momento saber o que fazemos e para quem e por quem fazemos tal clinica.
            Você daria o mesmo tratamento que seu serviço costuma dar para um familiar próximo, tipo pai ou mãe? Eu sim. Se não, porque não mudarmos isso, porque não revertermos a ideologia e ao invés de apenas quebramos os muros, não mudarmos nossos costumes. A tutela não está apenas nos hospitais psiquiátricos assim como não está apenas na saúde mental e por isso, devemos estar- SE OPTARMOS É CLARO- sempre pensando em nossas ações e não realizarmos um tratamento que vai de encontro ao que falamos em mesas, que vai de encontro ao que o cidadão mereça, que vai de encontro ao que realmente seja humanizado.
            DEFENDEMOS A LUTA ANTIMANICOMIAL porque sabemos que a SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSIQUIATRIA possui cadeira cativa nas universidades, nas câmaras municipais, estaduais e federais de todo o Brasil e está à todo momento querendo que os lutadores saiam desse lugar que eles ocupam e vão discutir política porque a clinica é pura, a clínica é neutra e faz parte de uma ciência e que por si também é neutra. O que de fato é neutro? Onde anda a neutralidade?
            Sabemos que se não DEFENDERMOS A LUTA ANTIMANICOMIAL poderemos cair no erro histórico de deixar os estudantes sendo formados pelos manicomiais e praticarem essa horrível atrocidade com os usuários que são em sua maioria, pobres, sujos, descalços, negros e loucos. Para piorar, só precisa serem presos, aí os trancamos em hospitais para que não nos incomodem.
            DEFENDEMOS A LUTA ANTIMANICOMIAL porque temos para nós o princípio de que a LIBERDADE É TERAPÊUTICA e que por isso, queremos os loucos nas ruas, tomando-as, cheirando-as, e vivendo-as de todas as formas, de todos os gestos em todos os dias e não apenas no dia 18 de maio onde comemoramos o DIA NACIONAL DA LUTA ANTIMANICOMIAL. Onde nele queremos celebrar o fim dos hospitais psiquiátricos com uma proposta muito mais saudável, colorida e terapêutica que hoje a chamamos de CAPS OU EM MINAS DE CERSAM’S que chamamos de CENTROS DE CONVIVÊNCIAS que chamamos de ATENÇÃO BÁSICA. Esse tripé de tratamento que  para nós é caro, para nós é simbólico e para nós é estatísticamente comprovado como sendo o melhor a se fazer por uma população que socialmente já é alijada de todos os processos de vida e que não seremos nós, trabalhadores da saúde que reforçaremos essa exclusão.
Por isso, o FOFO e os demais coletivos, movimentos e organizações políticas presentes aqui nesse auditório e em todo o Brasil conclamamos: BEM VINDOS AO MUNDO SEM MANICÔMIOS E SEM PRISÕES...
OBRIGADO